A Arte de Escolher a Felicidade
- escrevaasara
- 27 de dez. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 28 de dez. de 2024
Por Sara Gomes

Um dia, você deixa de ser criança. Que difícil!
Com o crescimento, vem a compreensão de que as coisas podem não ser tão coloridas, a menos que você escolha que sejam. Sim, você tem esse poder.
Do mesmo modo, é muito mais fácil reclamar do que elogiar. E sim, você também pode treinar isso.
Por mais tentadoras que sejam, as coisas bonitas são facilmente ignoradas. Beleza tem a ver com coisas padronizadas, corretas, limpas, coloridas com harmonia e simétricas.
Treinado pelo padrão de beleza, seu olhar detecta o feio facilmente: o que destoa, a carta fora do baralho, o vaso mal posicionado, a casca de ovo na massa do bolo, o membro que não se encaixa, o buraco na rua, o caroço no mingau. Que horror!
Uma vez condicionado, você passa a polir o brilho das cenas, tornando tudo opaco ou excessivamente lustroso. Faz a vida perder suas nuances naturais.
Não é que sua visão esteja ruim, embora possa estar. Trata-se do ajuste da luminosidade na vida. As cores podem se tornar tão sombrias ou, ao contrário, tão refletidas que você precisa apertar os olhos para distinguir as figuras tremeluzentes no horizonte que criou.
Se você permitir, o mundo vai ficando mais e mais feio, cheio de crimes, derrotas e vontade de desistir. Um lugar repleto de pessoas más, inconsequentes, jovens ou mesmo crianças armadas, sem apego à vida. Passa a ver apenas a corrupção ou a ausência de governo. Limita-se a sentir o cheiro do esgoto em águas turvas.
Pode ser que vá além e não veja a beleza em si mesmo, apenas a feiúra, os quilos a mais, a falta de preparo social. Nenhuma roupa lhe cai bem, muito menos sua própria pele.
Se não confia mais em seu olhar para ver o bem e o belo, terceiriza suas escolhas para outra pessoa. Deixa que escolham o que é melhor para você, a profissão que deve seguir, a roupa a vestir, seu corte de cabelo.
Pior ainda, não lê. Prefere confiar na sabedoria dos outros. Se alguém disser o que é certo ou errado, basta. Confia.
Toda essa feiúra leva ao medo, à ansiedade, à tristeza. De repente, você se pega chorando escondido. Paralisado em sua própria existência, sozinho.
No entanto, você pode escolher fazer tudo diferente. Ver cores no que outros classificam de pobreza, quando na verdade é apenas simplicidade. Enxergar a água correndo no riacho, não a poluição, e se sentir feliz, grato por estar naquela paisagem.
O carro quebra e que bom! Sinal de que tem um carro. Precisa pagar imposto de renda? Que alegria! Sinal de que tem renda. Precisa fazer um percurso a pé, ai que tudo! Você tem pernas.
A beleza brota. Ela é generosa. Encontrando terra fértil, se alastra. Logo tudo está colorido. Portas se abrem cheias de promessas e oportunidades. Você se dá conta de que a porta sempre esteve ali e era você que não enxergava.
Um belo dia, você bota o pé na estrada, apenas pela alegria de ver coisas novas e coloridas.
Nessa jornada, conhece pessoas cheias de cores, risadas de arco-íris, flores, borboletas e passarinhos. Seu mundo se torna amplo, muito maior do que estava acostumado. Percebe que pode ir mais e mais longe! Só depende de você. Confiante de que será vibrante. E será!
Você descobre que a vida, embora curta, pode ser infinita nas combinações de novas cores que encontra. Compila uma pequena biblioteca no melhor canto da casa, lê todos os dias, exercita-se. Sua respiração muda, você caminha leve. Seu peso não é mais uma questão, sua aparência é aceitável, até bonita. Você se transforma.
Logo, você ouve das pessoas conhecidas: "Não estou te reconhecendo. Você está tão feliz." E nesse momento, descobre que nem o elogio importa mais, muito menos as críticas. Você se basta e sua pele é sua melhor morada.
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